04/12/2019 - Equipe Target
NBR 16782 de 11/2019 e NBR 16783 de 11/2019: a conservação e o uso de fontes alternativas de água em edificações
A redução do consumo de água em edificações é parte constituinte de uma estratégia abrangente de redução da pressão imposta aos mananciais, buscando-se otimização no uso dos recursos hídricos disponíveis, a favor da viabilidade de centros urbanos, em especial aqueles com expressivo adensamento populacional, com melhoria da gestão da água. Existem diversas práticas aplicáveis à conservação de água em edifícios, com a utilização de tecnologias para uso eficiente da água.
No entanto, ainda há lacuna normativa para o estabelecimento de boas práticas e incentivo à difusão de tecnologias, processos e práticas que visem a uma abordagem mais sistêmica e abrangente sobre o assunto e que permitam a perenidade dos resultados obtidos. A conservação de água em edifícios é definida como o conjunto de ações que, além de otimizar a operação do sistema predial de modo a reduzir a quantidade de água consumida (gestão da demanda), promovem também o uso de água proveniente de fontes alternativas à água potável fornecida pelo sistema público ou privado (gestão da oferta).
A gestão da demanda possui foco no uso eficiente da água, por meio de ações no sistema hidráulico que viabilizam a utilização de menor quantidade de água para a realização das mesmas atividades e o permanente monitoramento de indicadores de consumo durante a ocupação, o que permite rapidamente identificar e corrigir elevações de consumo não desejadas. A gestão da oferta, por sua vez, foca na redução do consumo de água potável por meio do uso de água não potável em processos consumidores específicos, ou seja, a utilização de água menos nobre para fins menos nobres.
Ao mesmo tempo em que a economia gerada pela utilização de água não potável para processos específicos resulta em redução de consumo de água potável, há também maiores riscos sanitários associados à esta prática, demandando capacitação técnica e responsabilização dos gestores e fornecedores. O papel do usuário na conservação da água é fundamental, sendo importante prever ações de conscientização e capacitação para o correto uso, operação e manutenção.
A NBR 16782 de 11/2019 - Conservação de água em edificações - Requisitos, procedimentos e diretrizes especifica requisitos e estabelece procedimentos e diretrizes para edificações com uso residencial, comercial, institucional, de serviços e de lazer, novas e existentes, que optarem pela conservação de água, na combinação de alternativas de ações, no todo ou em partes, para a gestão da demanda e para a gestão da oferta, conforme viabilidade técnica e econômica caso a caso.
Pode-se acrescentar que, ao longo das últimas décadas, o panorama em relação aos recursos hídricos no Brasil e no mundo vem sofrendo importantes transformações. Constata-se, cada vez mais claramente, que a limitação de disponibilidade hídrica em algumas bacias hidrográficas juntamente com o aumento dos adensamentos demográficos e do consumo per capita de água ocasionam situações insustentáveis dos pontos de vista ambiental, econômico e de saúde pública.
São requeridas, portanto, novas abordagens em relação ao tema, priorizando-se iniciativas de conservação, otimização do consumo e utilização de fontes alternativas de água como opção à exploração de novos mananciais ou aumento das pressões sobre os já utilizados. Entre as atividades que normalmente utilizam a água na rotina das várias tipologias de edifícios, há importantes demandas que não requerem água com padrão de potabilidade, como irrigação paisagística, lavagem de pisos e veículos, descarga de bacias sanitárias e sistemas de refrigeração à água.
Usualmente essas demandas são supridas por água potável, competindo com usos mais nobres, como o consumo humano. Considerando-se o complicado cenário hídrico em centros urbanos, é positivo que haja descentralização e diversificação da matriz de abastecimento de água. Torna-se importante, portanto, que haja instruções que auxiliem profissionais das áreas de saneamento e construção civil na elaboração de projetos, execução e operação/manutenção de sistemas produtores de água não potável dentro de edifícios, estimulando as boas práticas e reduzindo os riscos potenciais.
A utilização de fontes alternativas em edificações, se realizada em escala, pode trazer reduções significativas na demanda de água no nível municipal. Os benefícios não são somente pontuais, mas resultam também em ganhos extensivos aos sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, reduzindo as pressões pela exploração de novos mananciais e a degradação de corpos hídricos receptores de efluentes não tratados.
Dentre as possibilidades de utilização de fontes alternativas de água não potável em uma edificação, destacam-se o reuso de água (cinza e negra), aproveitamento da água pluvial, água de chuva, água clara e água de rebaixamento de lençol freático. É válido ressaltar que estes sistemas necessitam de projeto, execução e gestão adequados para assegurar a qualidade da água a ser fornecida, para prevenir os riscos de contaminação do meio ambiente e preservar, acima de tudo, a saúde do usuário final. A qualidade da água disponível e o fim especí?co de utilização estabelecem os níveis de tratamento recomendados, os requisitos de segurança a serem adotados e os investimento...